segunda-feira, 31 de outubro de 2011

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Inaugurada a época balnear 2011 na piscina do Paço

Sem aviso, o tempo brindou-nos com um fim-de-semana de autêntica primavera e com boas temperaturas durante o dia. E com a água da piscina a 22º C no sábado já houve uns corajosos que se atreveram ao mergulho. Devo destacar uma jovem Lara de 6 anos que por lá andou um bom tempo na companhia do pai (obrigado...). No domingo, com a temperatura da água a subir para os 23º, fomos três a estrear a época balnear de 2011. Custou um pouquito a entrar, mas depois andámos lá uns bons 20  minutos a saborear a vista infinita sobre as serras da Arada, de São Macário e da Freita. Como sempre nestes dias, o pôr do sol é fabuloso e ainda mais quando, como hoje, aparecem umas nuvens vindas do lado do mar para decorar o infinito do céu.
Costumo dizer que não há nada que chegue ao olho humano na observação, mas aqui ficam algumas fotos do fim da tarde deste domingo de ramos no Paço para ilustrar as visões que aqui tivemos.

Pôr-do-sol sobre a Serra da Freita refletido na piscina do Paço no dia 17 de Abril de 2011


Inauguração da época balnear de 2011 com a água a 23º C

Barack posando junto à piscina

Barack e Michelle visitam o dono no seu 1.º banho de piscina de 2011

A ternura da Michelle condiz bem com a beleza da paisagem

Michelle em pose com o nariz "em cima" da Serra da Arada

Mais ternura da Michelle


Reflexos na piscina do Paço. Ao fundo a Serra da Freita.

Sempre a água da piscina e as montanhas, aqui a Freita e a Arada


Água e luz do em final de tarde

Visão perfeita. Palavras desnecessárias

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O Paço pelo olhar de Vanessa Rodrigues, jornalista

 No dia 26 de Março de 2011 a jornalista Vanessa Rodrigues veio passar o fim de semana ao Paço com o objectivo de produzir um trabalho jornalístico para o portal Alma de Viajante. Este trabalho está agora publicado e vale a pena ler, não só pela sua independência, mas também pela qualidade da escrita.
http://almadeviajante.pt/turismo-rural/centro/paco-torre.php

domingo, 20 de março de 2011

Primavera boreal, equinócio de Março, vidas renovadas - um olhar a partir do Paço

Terra fumegante
A natureza este ano esmerou-se na pontualidade e eis que neste fim de semana, que coincide com o calendário do equinócio de Março, a natureza nos brindou com temperaturas elevadas e muito muitas horas de  sol limpo, qual holofote gigante a iluminar os rebentos nos ramos, as flores que já abriram, os campos atapetados de verde, a nuvem difusa avermelhada das copas das florestas de carvalhos. Até a lua se juntou à festa: aproximou-se mais de nós e, enorme, como se grávida de nove meses, abençoa os animais que nesta altura quase não dormem, na excitação dos dias convidativos à sementeira nos ventres das fêmeas em cio.
A vivência deste tempo no Paço assume um sabor especial, por ser o primeiro depois de concluída a reconstrução. No sábado começámos por fazer uma plantação de mais oito laranjeiras e tangerineiras ali bem próximo da piscina dos pequeninos, e já estamos a imaginá-las a dar flor bem cheirosa e frutos ultra doces, para delícia dos que por aqui pararem no futuro. Estas árvores vêm juntar-se a várias outras
que já cá vivem. Só que desta vez a sua origem é dum viveiro de Rocas do Vouga, próximo do Paço, com um clima muito idêntico e, portanto, com maiores possibilidades de sucesso.
Terra pronta para plantar laranjeiras
Uma das fotos que publico mostra a terra fumegante após a abertura das covas para a plantação. Lindo! Aqui temos a prova de que a terra tem vida nas suas entranhas.
Árvores floridas no Paço com a Serra da Arada em Fundo

Loureiro com fruto
 A Michelle está no início do seu primeiro cio e esta noite passada já não pode ser solta em conjunto com o Barack, para grande sofrimento dos dois. Ternamente, o macho passou a noite próximo da casa da fêmea, só de lá saindo para vociferar contra o que julgava ser um intruso na área do Paço. Compensei a Michelle dando-lhe uma manhã de inteira de liberdade, na qual ela mostrou a sua excelente forma de roedor de objectos duros em cima dos relvados. No final da tarde demos uma volta pelos extremos da quinta, levando também o Barack, mas com rédea curta: foi um festim de cheiros e mijadelas sobrepostas, com o macho cuidados de marcar o seu território a informar que a fêmea que por aqui está é sua.

Pela primeira vez observei os loureiros com bagas, que nesta altura julgo serem frutos ainda verdes, o que parece ser confirmado pela wikipédia (Na ilha da Madeira, o óleo obtido da baga do loureiro endémico é conhecido por possuir propriedades anti-inflamatórias, sendo utilizado localmente como remédio caseiro para diversas maleitas, podendo cada litro atingir preços de mercado elevadíssimos). Normalmente o loureiro é uma árvore bonita, pela sua forma elegante e pelo brilho das suas folhas, mas nesta altura, com o fruto já formado, verde mais claro que o das folhas envolventes,  percebemos porque é que os romanos e os gregos a utilizavas para as mais altas distinções. E gostei de saber do valor económico do óleo: com a enorme quantidade que temos aqui no Paço ainda faremos aqui uma fábrica da rica gordura.

Loureiro, ninho no carvalho e S. Pedro do Sul e Serra da Arada

Árvore com rebentos

Cerejeira com rebentos e flor com a Serra da Arada em fundo
 E ainda ontem prestámos homenagem à Primavera fazendo mais um corte nos relvados, assim como que fazendo a barba à natureza, para ela estar impecável na recepção ao Primeiro Verão (Prima Vera). Finda a rapadela passámos-lhe um after shave de água do furo do Paço, de perfume neutro.
O sol começou a inclinar-se para a Serra da Freita, e, agradecido pelo nosso cuidado, ofereceu-nos mais uma série de fotos suas nestes preparos de dormir, que nos deixam sempre com a sensação de que o que é bom acaba depressa. E desta vez até trouxe testemunhas: um avião que corria em direcção a Norte andou ali bem por cima do horizonte deixando à vista a sua recta assinatura.
Viva a Primavera, viva a vida que renasce no fim de cada letargia!

Rega após corte do relvado rústico

Laranjeiras já plantadas

Por do sol com avião rumando a norte por testemunha

Pôr do sol sobre a serra da Freita, com a piscina do Paço em 1.º plano

terça-feira, 8 de março de 2011

Felizmente há lobos na Serra da Arada


É sempre com um enorme prazer que saio do Paço para ir à Serra da Arada, tal é a magnitude da paisagem, nunca repetida no espaço e no tempo. Quando há cerca de três anos descobri por acaso esta preciosidade da natureza senti vergonha de já ter ido tão longe no mundo, mesmo aos confins da terra, da Patagónia Chilena à Tasmânia, e não conhecer algo tão belo mesmo ao pé da porta. Coisas da má promoção e da nossa comunicação social que só  vende o que está na moda (o Douro, o Alentejo, o Alqueva, o Algarve). Quantas vezes saí do Paço a caminho do Porto e, em vez de fazer a A25 e chegar ao destino em cerca de uma hora, fui pela serra da Arada e da Freita em direcção a Arouca, e daqui para a invicta, demorando três vezes mais. Mas que passeio ao final do dia, já com o sol a cair no mar lá para o lado de Aveiro! O desenho curvilíneo dos montes rapados nas contra-luzes, que vão variando de minuto a minuto e de curva a curva da estrada, é duma beleza raríssima. As cores e as formas dos montes são outro despertador do nosso sentido do belo: ora bem curvados, aqui e ali com um rebelde cheio de picos pedreiros, ora dispostos em multi-camadas sucessivas, cujas formas e cores se esbatem com a distância, ora únicos no horizonte quando a estrada se afunda, ora deserto de elemento humano, ora pintalgado aqui e acolá com casas e estradas e antenas e aero-geradores.
Hoje de manha lá fui para uma sessão deste prazer, com a ideia de fazer imagens vídeo para um pequeno filme a colocar no Youtube ligado ao site do Paço.
Segui do Paço para S. Pedro do Sul via Negrelos, depois em direcção ao Fujaco. Vinte minutos de viagem e primeira paragem para beber de novo as imagens desta aldeia escondida do mundo. Tantas casas de xisto suspensas nos montes e socalcos, que os humanos fugidos há muito duma qualquer perseguição religiosa tiveram que confeccionar para garantirem espaço onde matar o corpo para matar a fome, lembram-nos o esforço que muitos homens tiveram que fazer ( e ainda fazem, embora cada vez menos) só para sobreviverem. Que força é esta que está dentro de seres inteligentes que os leva a tanto esforço para tão pequeno resultado? Não fora a pontuação da paisagem aldeã com casas aluminadas e coloridas pelos corantes químicos das CIN’s e das Robbialac’s da praça, feitas no tempo  em que os autarcas andavam distraídos da beleza, e a paisagem de casas xistosas seria perfeita. Mesmo assim, vale muito a pena deixar o carro no fundo da aldeia e subir a pé até ao topo. Cada curva do caminho, cada conversa com os locais deixam-nos mais conhecedores da vida que ainda por aqui gira e suas origens. Se fosse hora de almoço e o apetite nos torturasse poderíamos ter almoçado no Rochedo, restaurante que sobrevive do pequeno turismo que aqui chega, especialmente no verão.
De novo na estrada e mais 15 minutos andados estamos no cimo do Monte de S. Macário. É verdade que daqui se avista para um lado a Serra da Estrela e uma boa parte da Beira Alta e, para o outro, em dias limpos, o Porto e uma parte da orla costeira. Mas hoje o dia não estava para vistas largas e o olhar concentra-se no horizonte a 10/15 kms: mais próximos estão os montes limpos de árvores dignas desse nome, com as formas e as cores que já acima descrevi, e mais longe há planuras com manchas arbóreas essencialmente verdes de pinhos. Num dia de verão  vale bem a pena chegar aqui com um farnel e fazer o pique-nique que as mesas, os bancos  e as sombras que algum poder público ali colocou espera que façamos.
Mais um pouco de carro e o desenvolvimento da estrada leva-nos ao deslumbramento da permanente variação da vistas e das formas de tudo o que nos rodeia. Uma cortada à direita, andamos um pouco e já vemos à esquerda bem lá no fundo dos montes a Aldeia da Pena. Não é possível resistir: pára-se de imediato e tem que se despender alguns minutos perceber que paisagista iluminado desenhou aquele povoado, ali aninhado, em forma de ovo, de contornos muito certinhos, com a cor do xisto dos telhados tão uniforme; e, mais uma vez, o que terá levado seres humanos a instalarem-se ali, no fim do mundo, com acessos inexistentes ainda há poucos anos, donde era difícil sair, mas onde era difícil alguém chegar. São casas, uns quantos lameiros bem irrigados e nada mais. Apenas o suficiente para sobreviver longe do mundo.
A manhã já ia muito alta e era preciso regressar ao Paço. No caminho pela estrada que percorre o cume da serra da Arada no sentido este-oeste avistámos um enorme rebanho de cabras junto à estrada, pastoreadas por uma senhora trajada a rigor, acompanhada à distância por um homem mais velho e dois pequenos cães. Fizemos conversa: que eram de Covas do Monte, ali bem perto, lá no fundo doutros montes, que agora andavam em pastoreio comunitário com 700 cabras, mas que já foram mais de 2000, que andaram a povoar a serra com lobos que quase todos os dias lhes atacam o rebanho, que a gente nova se tem ido toda embora, que a actividade com as cabras já não é lucrativa, que quando os velhos de hoje pararem a vida das cabras morre com eles.
Esta conversa dos lobos daria pano para mangas, mas havia que ir ao almoço com a ideia que nos muitos regressos ao local que havemos de fazer havemos de ter sorte de ver os lobos no seu deambular feliz por uma serra onde ainda há cabras tenras e fáceis de conquistar.
www.pacodatorre.pt

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Máquina zero no cabeludo

Aqueles ervados já andavam há muito a pedir corte e eu andava mortinho de lhe ser útil, de fazer o gosto ao dedo, como que a querer fazer na natureza algo que sempre desejei fazer num humano e até hoje não consegui: cortar um cabelo à escovinha, primeiro com tesoura e depois com pente zero, especialmente se a cabeça fosse daquelas forradas  a pelo longo, daqueles que obrigam ao safanão rodopiante da cabeça com paragem brusca para retirar o empecilho dos olhos ou, mais para o lado da nuca, o que passa bem abaixo da gola do casaco e ainda encaracola na ponta em forma de rabo de cão. Como não alimento a esperança de alguém se voluntariar para me matar este desejo preverso, até porque os cabeludos já não abundam e não espero vir a ser torcionário numa qualquer ditadura local ou longínqua, dirigi toda a minha frustração para os relvados do Paço:  no sábado o sr. Armindo da Curta Paragem lá me veio apresentar a máquina de cortar relva que no fim de semana anterior havíamos negociado (sim , não é lapso, a empresa chama-se mesmo Curta Paragem, dedica-se a tudo quanto tenha motor de explosão, está situada numa aldeia a poucos kms do Paço, pratica bons preços e, vantagem maior, dá boa e rápida assistência, mesmo ao fim de semana); uma instrução rápida, que se fazia tarde para partir para Vidago para o baptismo do Miguelito, duas voltas de prática na relva, os sapatos novos aspergidos por relva super fragmentada e a máquina lá ficou à espera pelo dia de hoje, para a minha grande estreia, com muita satisfação, como cortador de relva (cabelo em cabeça humana, diz a minha imaginação). Finalmente amanheceu o domingo,  e que domingo: sol, muito sol, nuvens só os traços de avião que logo cedo andavam num corre corre, uns direitos a oeste outros virados a sul, todos com ar de ir passar para além do oceano que lhes corre por baixo, pouca humidade na relva, mas ainda assim a suficiente para ter de esperar  mais um pouco que o secador solar a torne mais leve e sedosa. Às 10 horas, a máquina no sítio, abertura da torneira da gasolina executada,  borboleta de entrada do ar  fechada, um puxão no cordão de arranque e nada; outro e mais outro esforço bruto e a nega continuava: o Honda resfolgava mas não explodia; afinal era a relva alta que prendia a lança cortadora e impedia o motor de atingir as rotações necessárias para o arranque. E num instante aí estávamos nós homem e máquina a interagir como se toda a vida vivêssemos um com o outro. O som do motor é típico dos motociclos Honda a 4 tempos, o ruído é suave e a tracção às rodas traseiras até nos leva a reboque. Mas o primeiro obstáculo que nos aparece pela frente, uma camélia, digo uma orelha na cabeça,  mostra que afinal a máquina manda mais do que o operador, e o choque foi violento: uma roda dianteira abraçou o frágil tronco do jovem arbusto, porque a tracção continuava a puxar enquanto o maquinista não desembraiasse. Corrigido o erro e tomada a lição, a coisa correu bem  e durante quase duas horas o exercício de braços e pernas  foi agradável e o resultado final foi uma “escovinha” quase perfeita, sem fazer sangue. Já estou a imaginar a luta interna para o próximo corte, mas eu venderei a derrota cara, porque tenho planos de ser sempre o maquinista de serviço. Tenho até planos de comprar um vestuário a condizer: umas calças de alças à jardineiro, uma botas de biqueira metálica, uns óculos de segurança e uma luvas de condução. Aberto, digo escancarado,  o apetite com tão saudável tarefa lá fomos ao Chave do Cruzeiro atacar uns nacos de vitela e uma vitela assada à moda de Lafões, que o Zarator da noite se encarregará de anular nos seus efeitos maléficos.
Camélia jovem bebendo sol

E o sol continuou a inundar uma tarde que era bom triplicasse de duração, e me permitisse estar ainda no Paço, em vez de ir aqui a escrever sentado no lugar 66 da carruagem dois do Alfa Pendular em direcção a Lisboa, são já quase 11 da noite.



domingo, 20 de fevereiro de 2011

O banco do Senhor Evaristo


Quando comecei a vir ao Paço todos os fim-de-semana para acompanhar o desenvolvimento das obras reparei num senhor velhinho que nos dias de bom tempo se sentava num banco de cimento colocado ao lado da rua, mesmo em frente à porta de entrada para a minha propriedade. O senhor tinha um ar de sofrimento com as maleitas da idade, andamento só com auxilio de muletas,  mas sempre cumprimentava e nos falava com um sorriso simpático no rosto. Um dia quedei-me mais um pouco à conversa com o Senhor Evaristo que me falou  entusiasmado do gosto que tinha em me conhecer e de estarmos em vias de sermos  vizinhos, que tinha sido grande amigo do meu pai, desde os dias em que fizeram a escola primária juntos ao longo de 4 anos. Contou-me histórias, muitas histórias, da sua (e do meu pai) juventude, das dificuldades e das alegrias da vida, da criação dos filhos, da doença e da velhice  galopantes, do sofrimento, das dores e da falta de mobilidade e de indepêndencia, da partida prematura do meu pai e da espera que estava a fazer pelo seu dia final. Naquela conversa revi muitas histórias que conhecia há muito, contadas pelo meu progenitor, e passei a ver o Sr. Evaristo como alguém que encarnava um pouco do meu pai. O meu pai, que tanto amei, ressuscitou um pouco a partir daquele dia, na pessoa deste simpático senhor. E durante quase 3 anos, sempre que o tempo alegra a esperança dos velhos, ali estava à hora mais luminosa o Sr. Evaristo sentado no seu banco, sempre com alguém por perto em amena conversa,  com o sorriso e a palavra agradável para este vosso relator de episódios de vida. Ainda há 3 semanas o encontrei no local do costume, no seu caminhar lento ajudado pelos andarilhos metálicos de velhos e aleijados, e como sempre nos cumprimentámos, falámos do tempo que fazia, da sua saúde e doutras banalidades que enchem as conversas. Na semana seguinte rapidamente percebi que faltava a chegada da carrinha do Centro Paroquial de Fataunços  que, tão pontual como o comboio da defunta linha do Vouga, à hora de almoço e de jantar vinha trazer as refeições ao casal  Evaristo há já vários meses. O sr. Evaristo tinha-se finado no Domingo anterior ao entardecer, justamente quando eu retornava ao Porto, depois do habitual fim de semana no Paço. Morreu em paz, sem longo sofrimento. Foi uma notícia triste: com o sr. Evaristo morreu de novo o pouco do meu querido pai que renascia cada vez que o  via e com ele conversava. 
E o banco do Sr. Evaristo lá estava hoje, limpinho pelas chuvas e ventos da noite passada, como que pronto para acolher o seu amigo, num dia que amanheceu escuro e triste.










domingo, 13 de fevereiro de 2011

Ângulo novo em dia de chuva

 
Quando pensamos que já vimos o Paço por todos os ângulos, que já fizemos as melhores fotos possíveis, um dia  descobrimos que afinal há mais e que por aqui não vai haver monotonia, que de quando em vez surgirá algo novo que nos encanta. Hoje, já depois de almoço, aconteceu um desses momentos. Uma ida ao café da aldeia para tomar um Sical e, no regresso, já com chuva miudinha, que o pára águas chinês impedia de me esbofetear, mas não de  bater apressada e aos soluços  no fundo das minhas calças, comandada pelo vento encanado pela  garganta que o traz  do oeste, do lado do mar, decidi aventurar-me por uma pequena rua do centro onde só tinha entrado uma vez, já há muito. Algumas casas, logo no início, mostram que,  transferidos os donos para a habitação eterna, os seus descendentes seguiram o caminho das urbes mais graduadas e não cuidam de suster os telhados e as paredes que vão caindo umas após as outras. Nalgumas só sobram velhos portões de folha de flandres e aros de ferro com as iniciais gravadas dos que um dia quiseram assinar para todo o sempre o seu nome na casa que julgaram passaria a ser a habitação dos descendentes. Felizmente que mais adiante as casas e as terras cheiram a vida pujante: primeiro é um  cão que, antes, silencioso, receoso do que por aí viria, ladra agora furiosamente, assim que percebe que o inimigo que se aproxima  está ao seu alcance, apesar dum pouco mais corpulento, e à medida que os vizinhos cães entram no coro ele sente-se encorajado e decide avançar para mim a passos largos,  mas rapidamente arrepia a corrida com um esgar do forte impulso negativo que a corrente ligada à coleira lhe provocou; recomposto, volta mais uma e outra vez a repetir o alarido e o movimento agressivo, enquanto eu,  seguro da fortaleza do travão que mantém o assanhado no seu curto território, acabo de descobrir uma nova vista do Paço e disparo várias fotos a pensar como seria bom ter mais uma mão para segurar o guarda-chuva. Andando mais um pouco rua  adentro, no quintal grande duma casa com roupa de criança a secar na varanda vejo em estado de alerta geral (alerta vermelho, diria a protecção civil) uma comunidade de ovelhas, com filhos menores, que protegidas por  cornudo macho, me observam atentíssimas, talvez alertadas pelo insistente alarme dos canídeos, mas que quando me chego a elas retomam o longo e penoso horário de pastoreio, próprio dos que foram brindados pela natureza com um sistema alimentar altamente ineficiente (fico contente por estas doces criaturas me considerarem inofensivo…). E há por ali no terreiro carros novos, e há carrinhas de transporte e há tractores de última geração, todos a ilustrar uma agitação que se adivinha acontecer nos dias em que os textos da religião não proíbem os pobres de trabalhar, o que, como sabemos, lamentavelmente, apenas acontece um dia por semana. Sigo mais um pouco, a rua transforma-se em caminho rural, descendo rapidamente de cota em direcção ao rio, e ao desfazer duma curva, apagada a silhueta opaca dos carvalhos, vejo no alto o Paço, montado num monte de carvalhos, loureiros, castanheiros e rochas, muitas rochas, com a sua silhueta granítica de linhas rectas, vidraças brilhantes viradas a norte e a nascente, quais multi-olhos dum gigante de pele amarelada que adormeceu num pico de granito suportado por patamares que se vão agarrando uns aos outros para não caírem encosta abaixo. E lá foi mais uma correria de fotos com o contentamento da descoberta dum novo ângulo a explorar brevemente num dia de sol,  num daqueles dias em acontece a combinação perfeita câmara- natureza que transforma o fotógrafo num simples tripé.

Banana da Madeira na lareira do Paço arrefecida com Porto

Eu sei que a coisa se parece mais com um qualquer animal rastejante preparado na cozinha dum tailandês, mas na verdade é o resultado da receita ontem à noite criada pelo chef Cardosier: banana da Madeira assada na lareira do Paço arrefecida com vinho do Porto. Então é assim (também sei dizer...): colocam-se as bananas com a casca próximas das brasas ou da madeira a arder durante cerca de 5 minutos, depois viram-se, depois retiram-se do quente, despem-se com um faca de bom corte e colocam-se numa cama de vinho do Porto. Assim, já mais frias, docinhas, comem-se sofregamente e chupa-se e lambe-se tudo onde elas tocaram. Mas cuidado, gente com mais de 50: comam apenas duas, no máximo, de cada vez, não é por nada, é a receita engorda muito.
A sério, é mesmo muito bom, mesmo sem vinho do Porto. Basta acertar bem no ponto certo do tempo de assadura.
A vida no Paço continua em grande azáfama de preparação para a abertura do TH ao público. Enquanto o site não fica pronto, acaba-se a colocação de quadros nas paredes, fazem-se limpezas finas dos terrenos envolventes, plantam-se roseiras, bolbos diversos e cactos em vários pontos, afinam-se pormenores de construção civil da casa que ficaram defeituosos  ou que vão avariando. O site deve estar concluído em menos de duas semanas e já comecei a registar o TH em agências de reservas.
Nos dois dias de liberdade total que os cães  têm no fim de semana vão fazendo pequenas razias nos sítios onde resolvem dar largas aos alegres e violentos mimos que trocam, que muitas vezes coincidem com os jardins. Não se pode ter tudo....

sábado, 29 de janeiro de 2011

Logo existe

Muito tempo e muita discussão depois da primeira versão, chegámos ao logotipo definitivo para o Paço. O portal exterior encimado pelo brasão com as armas reais proporciona uma imagem simples ao mesmo tempo que está  indelevelmente associado à casa desde os primeiros dias da sua existência, há mais ou menos de 500 anos. Deixámos de lado a ideia de termos a paisagem simbolizada no logo, a qual  é um dos aspectos marcantes da casa, por não se ter conseguido chegar a uma solução visual que agradasse a todos os que tinham voto na decisão de escolha.
As fotos já estão prontas, já fiz uma primeira triagem ontem à noite e espero concluir a tarefa da escolha das que irão para o site amanhã nas duas horas de viagem do Alfa Pendular a caminho de Lisboa. E passadas três semanas aí estará a primeira versão do site.
Continuando com mais arranjos exteriores de pormenor, hoje o Sr. Emídio com mais um ajudante fizeram um passeio de travessas de madeira entre o parque de estacionamento e o tanque de rega. Foi uma tarefa pesada, que começou logo às 8 da manhã com o corte a meio das travessas utilizando a moto-serra. É espantoso como estas sulipas, a maioria de madeira de eucalipto, algumas com mais de 40 anos, resistem ao tempo: são duríssimas e resistem estoicamente à corrente cortante, obrigando a que a meio da função eu tivesse que ir aguçar a dita e, por prevenção, comprar uma nova suplente; uma vez abertas pelo corte deixam ver um interior sem mácula, com a cor e as nervuras  típicas do eucalipto, sendo fácil prever que vão durar outro tantos anos. Hoje a maioria ficou já colocada no sítio, e que bem que ficaram. Este homem é mesmo um achado como trabalhar-faz-tudo: faz de tudo e bem, seja na horta, seja de serralheiro, de carpinteiro ou de pedreiro.
E já o sábado corria para a noite, com este sol de inverno a esconder-se ali ao lado do Monte da Sr.ª do Castelo, preguiçoso de correr mais um bom bocado de céu para se pôr por cima de Manhouce, como faz nos dias grandes, eis que toca a campainha a Licínia pronta para me oferecer meia dúzia de chouriças, fresquinhas, do seu porco morto há 15 dias, já com este tempo de fumeiro, prontas a contribuir para o enriquecimento do cozido à portuguesa feito com carnes e ingredientes de produção local.

Não fora as minhas origens beirãs, eu andaria estupefacto com a generosidade da vizinhança: ainda não tínhamos tido tempo de  esquecer o sabor das febras e do lombo do dito porco e já a Licínia aqui estava com a prova das chouriças, que ela própria fez a seguir à matança; e é o vinho novo, e são as batatas novas, e são as nabiças novas, é o garrafão do bagaço novo, é o mel da minha tia Arminda, é o franguinho caseiro de que se vai tirar as febras do peito para a menina Emma.
Haja saúde para aguentar tanta guloseima!